Pra não estar lá.

Acordei, vesti a primeira roupa que encontrei e fui. Tomei um café, lavei a louça, cortei a grama, reguei as plantas, organizei papeis, joguei algumas coisas no lixo. Pensei em ir fazer compras, ou dar uma caminhada pelo parque, quem sabe até fazer trabalho voluntário, qualquer coisa que me ocupasse o tempo, a mente e o coração. Aquilo tudo era apenas mais um pretexto para não estar lá, naquele mesmo lugar onde tudo começou, onde dividimos alguns cafés, onde começamos alguns dias, lá onde possivelmente tudo terminaria da mesma forma que começou, casual. Voltei pra cama. Deitei.
Pensamentos e recordações inundaram meu quarto, eram lembranças por todos os lados, porque tudo aconteceu assim? Eu não deveria estar nesse lugar, eu não deveria estar desse jeito, o relógio me lembrava que tínhamos que nos encontrar, quem sabe uma ultima conversa, quem sabe um beijo de reconciliação, mas eu já vivi isso antes, e já sabia onde essa história iria parar. Apertei os olhos numa tentativa de dormir, ou desmaiar, estar inconsciente me parecia muito bom.
Incrível como, quando eu mais preciso ser forte, mais preciso ser decidida, ai é que eu fraquejo, ai é que eu choro, mas pelo menos ainda consigo fingir, me vesti e saí. Eu sabia onde deveria ir, sabia que alguém me esperava, mas sabia também  que - mais um vez - não daria em nada, me polpei de mais lágrimas e lamentações e fugi. Não sei bem se fui ao shopping, ao cinema ou ao teatro, só sei que hoje depois de quase fraquejar, e ter sido guiada mais uma vez pelo meu coração, fui racional e segui um caminho diferente. Não quero pensar em como tudo teria sido se eu tivesse feito outra escolha, e pra doer menos, eu decidi não ir até lá. Não fui.